sexta-feira

CAFÉ DA NOITE | **CAFEZINHO BRASIL**

A ARTE DE TOMAR CAFÉ NO COPO

       Se coloco minha atenção alí, o barulho aumenta, ao fundo o ruído dos carros me atormenta e me desorienta, enquanto ainda no começo da escrita, pouco a pouco percebo que há um som harmonioso perto de mim, no atrito atento da caneta sobre o papel, na voz macia que pode ler o que escrevo, e depois do "penúltimo" pneu que  desliza no asfalto da rua, o cachorro late e o coração bate até ouvir o som da lua.

A arte de tomar café no copo chega até mim na imagem que guardo na mente, de uma alma sincera e contente, que no peito azul leva escrito, em letras brancas, a palavra Brasil.
E o líquido escorre desde o copo embaçado, atravessa a mão firme que o sustenta, e passa pela boca até encontrar a garganta. O corpo todo esquenta.

Enquanto o café da noite, coincide com o café da manhã, a natureza grávida da lua, procura ouvir o silêncio um pouco mais de perto, e porque seu brilho intenso permanece limpo no céu, escrevo e desperto.

Sem saber ao certo que horas são, quero apagar todas as luzes, uma a uma, e deixar a lua de prata desenhar a sombra da minha mão na folha em branco, onde devagarinho combinam um novo encontro, as palavras.

A sombra que se move.
A sombra que espera a próxima palavra.
A sombra que me mantém acordada para me fazer lembrar, que a arte de tomar um café no copo, tem o teor do grão torrado por uma temperatura mais elevada, e por um pouco de tempo a mais, e assim também poder sentir a alma forte e incorpada de respeito e gratidão pela vida, e desde a mais branda, até a mais pesada, a escrita,  falada ou cantada, cada palavra.

Enquanto muitos ainda recolhem-se das agitações da vida, meu universo sonoro, minha própria lida, o apito do trem me enche de esperanças até o peito suspirar um alívio.



Para o salto, gafanhoto.
Para a palavra, o som dos trilhos.
Para o amigo, o café da noite.
Para o copo, o café.
Para o café, a energia no pensamento.
Para a vida, a paz de cada momento.
Para a arte de tomar o café no copo, 
o " último" pneu no asfalto, 
o ar gelado na cara,
 a lágrima de ternura.